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Porque hoje é sábado, minha dica de filme, El Patrón, Radiografia de un Crimen [ Netflix ]

Um crime bárbaro chocou a população de Buenos Aires (Argentina) na década de 1980. Um açougueiro, tido como um homem de personalidade pacata, esfaqueou o dono da casa de carnes em que trabalhava em plena luz do dia, sem qualquer preocupação de discrição. A ocorrência ganhou as páginas do livro El Patrón, Radiografia de un Crimen, escrito pelo criminólogo Elías Neuman, respeitado cientista forense. O diretor Sebastían Schindel escolheu, para sua película de estréia, um roteiro homônimo adaptado da obra do advogado, um questionamento sobre o outro lado de um homicídio à sangue frio. No elenco estão Joaquín Furriel, Guillermo Pfening, Mónica Lairana e Luis Ziembrowski.
A coprodução entre Argentina e Venezuela conquistou 11 honrarias internacionais de cinema. O protagonista, Joaquín Furriel, é responsável por três dos troféus recebidos: melhor ator nas mostras de Guadalajara (México) e Huelva (Espanha), e no Prêmio da Academia Argentina de Artes e Ciências Cinematográficas. Hermogenes (Joaquín Furriel) é um homem simples, tímido, de poucas palavras e acostumado a trabalhos pesados. Ele faz um movimento comum de moradores de cidades pequenas, e deixa um humilde município da província de Santiago del Estero em busca de trabalho na capital, Buenos Aires. Semi-analfabeto e com pouquíssimas chances de ascensão social, conforma-se com pouco e aceita um emprego como ajudante do açougueiro Armando (Germán de Silva) em uma modesta casa de carnes.
Seu destino muda com a chegada de Latuada (Luis Ziembrowski), o dono do estabelecimento. Homem arrogante, mal-educado e de hábitos grosseiros, ele enxerga em Hermogenes a possibilidade de alavancar outro mercado. A suposta promoção, na verdade, é uma fraude. Ele precisa morar em um quarto nos fundos do armazém, em condições precárias de habitação. De seu salário, são descontados o aluguel dessa pocilga – onde se aperta com a esposa, Gladys, (Mónica Lairana) –, 30 quilos de carne e a prestação de um apartamento ainda em construção. Dia após dia, o açougueiro e sua família são humilhados. Em um episódio de raiva extrema, o magarefe enfia uma faca no abdome do chefe. Em um arranjo de interesses, tem a sorte de ser representado por Marcelo Di Giovanni (Guillermo Pfening), advogado escalado para o caso.
A radiografia de um crime, proposta no título do filme, é bem mais extensa. É, em última análise, um raio x da realidade social de muitos países. Hermogenes aceita circunstâncias sub-humanas de vida por falta de opções. É a representação de uma fatia da população lembrada pelo poder público unicamente no momento de colocá-lo atrás das grades, mesmo sem ter recebido seu quinhão das obrigações do próprio estado, como educação, saúde e trabalho. Latuada, por outro lado, é a face opressora de um capitalismo desenfreado e desleal, onde o lucro vale acima de tudo. O empresário mantém seu funcionário em condições análogas ao feudalismo e vende carnes podres para seus clientes sem qualquer resquício de remorso. Recorrendo a flashbacks, o roteiro deixa no ar o questionamento: quem é o verdadeiro vilão dessa história?



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